Mateus 17: 14 a 19
“Senhor, tem misericórdia de meu filho, que é lunático e sofre muito; pois muitas vezes cai no fogo, e muitas vezes na água; E trouxe-o aos teus discípulos; e não puderam curá-lo. E Jesus, respondendo, disse: Ô geração incrédula e perversa! Até quando estarei eu convosco, e até quando vos sofrerei? Trazeis-mo aqui. E, repreendeu Jesus o demônio, que saiu dele, e desde àquela hora o menino sarou”.
Para os líderes religiosos Frei Calisto, igreja católica, e Pastor Xyco, igreja protestante, essa passagem da Bíblia é interpretada como um caso de epilepsia. A mesma interpretação pode ser vista em O Evangelho segundo o espiritismo, de Allan Kardec.
Frei Calisto, representante da Igreja Santo Antônio do Embaré, sugere que a palavra “lunático” possa ser uma linguagem da época e que tenha derivado da crença da lua. Quanto à possessão de demônios, diz “há muitos fenômenos que correspondiam com a epilepsia, mas não necessariamente a epilepsia seja sobrenatural” e completa “Talvez Jesus quisesse mostrar nas palavras ser o Deus que expulsasse o demônio”.
“Essa grande confusão entre possessão demoníaca e epilepsia ocorre devido à ignorância tanto científica quanto bíblica de alguns que se dizem pastores”, explica o Pastor Xyco e afirma “É um caso claro de ação demoníaca e não de epilepsia”, sugerindo que há uma tradução errônea da Bíblia.
Acreditava-se que a lua não era considerada um satélite da Terra e sim uma divindade que poderia controlar a epilepsia. Elza Márcia Targas Yacubian, em Epilepsia: da antiguidade ao segundo milênio – saindo das sombras, diz que “as pessoas afligidas pelo mal haviam pecado contra Solene, a deusa da lua, ainda que esta constituísse uma doença sagrada, pois sua cura não poderia se processar por meios humanos, mas apenas pela intervenção divina”.
Com o cristianismo, as pessoas passaram a acreditar que as crises se tratavam de processos naturais: “O aquecimento da atmosfera terrestre pela lua derreteria o cérebro, provocando as crises”, continua Elza.
Dados científicos, como os de Moreau, sobre a relação das crises de epilepsia e a mudança das fases da lua, analisando mais de 42 mil crises de 108 homens em cinco anos, chegaram a resultados negativos. Mas mesmo assim, para alguns espíritas, a fase da lua pode influenciar as crises.
Até hoje, falar de epilepsia, para algumas religiões, é ainda sinônimo de possessão. Uma pessoa com epilepsia sofre preconceito por líderes religiosos, que influenciam os seus seguidores a acreditarem que ela carrega o estigma de ser possuída por demônio, sendo passível de cura apenas por meio de orações e rituais de exorcismos. É comum ainda a prática de exorcismo da epilepsia em algumas igrejas, principalmente as pentecostais, como a Igreja Universal do Reino de Deus, que acreditam somente na fé para a cura e dispensam o uso de remédios.
O pastor Marcos Jair Ebeling, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, explica: “Reconhecemos que a causa da epilepsia é clínica e não espiritual. Portanto, deve ser tratada clinicamente e encaminhada para o médico".
Na prática do budismo é natural buscar e seguir as orientações dos médicos para o tratamento de doenças ao mesmo tempo em que devemos fortalecer a prática da fé. O protestantismo valoriza o dom da fé e o dom da medicina. O catolicismo ressalta que a epilepsia não é causada pela possessão demoníaca e nem pelas fases da lua.
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